5º Domingo do Tempo Comum | Homilia | Padre Francisco da Costa | 07/02/2021
5º DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO B – 2021
(Leituras: Jo 7,1-4.6-7; 1Cor 9,16-19.22-23; Mc 1,29-39.)
Queridos irmãos e queridas irmãs! Estamos celebrando o 5º Domingo do tempo comum ano B. As leituras de hoje, segundo a minha reflexão, nos colocam três temas importantes, presumidamente em a importância de rezar, de pregar e de perseverar: oração, pregação e perseverança.
Sem dúvida alguma, o maior obstáculo intelectual para a fé em Deus — tanto para o cristão como para o não cristão — é o chamado problema do mal. Em outras palavras, como é difícil aceitar que existe um Deus todo-poderoso e todo-amoroso, e que permite tanta dor e sofrimento no mundo, sobretudo a pandemia a qual está nos causando tanto sofrimento.
Queridos irmãos e queridas irmãs! Uma notícia real foi transmitida pela televisão, aconteceu em 1985, na Cidade do México, um terrível terremoto que tinha devastado blocos de altos edifícios com apartamentos. Equipes de resgate, que trabalhavam nos escombros procurando por sobreviventes, se depararam com um menino de dez anos que foi encontrado vivo em algum lugar entre os escombros de um edifício que havia caído. Durante diversos dias que se seguiram, o mundo todo observava com agonia as equipes que tentavam remover os entulhos para pegar o menino. Eles podiam se comunicar com ele, mas não podiam alcançá-lo. Seu avô, que tinha sido soterrado com ele, já estava morto. “Eu estou com medo!”, ele gritava. Após cerca de onze dias, houve silêncio. Sozinho nas trevas, sob os escombros sem comida, com medo, o menino morreu antes que as equipes de resgate pudessem libertá-lo.
Caros Leitores! Esse foi um dos desastres que despedaçou nosso coração. Frente ao sofrimento, lançamos a mesma pergunta dos discípulos quando a barca quase foi derrubada pela tempestade: Senhor, tu não te importas, que nós estejamos perecendo? Assim é a nossa reação espontânea. Quando eu era adolescente, pensava que os sofrimentos não aconteciam a nós como os cristãos nem com o fato de que estivéssemos andando segundo a vontade de Deus. Eu também pensava que ser cristão é viver livre de todas as dificuldades, de todo o sofrimento. Está escrito no folheto dizendo que estar na presença de Deus não significa ausência de dor e da angústia; porque a realidade fala outra coisa para nós cristãos, isto é a nossa fé que está sempre sendo provada por tantas tribulações e sofrimentos os quais nos preparam para a felicidade eterna.
Caros leitores! Três pontos para a nossa reflexão. 1º) A passagem diz de madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto”. A importância de rezar. A oração. A oração é a nossa arma mais forte. Jesus é o grande exemplo de oração. Pessoa orante. De madrugada quando ainda estava escuro, que quer dizer o início da vida – o começo do dia – Jesus santifica o seu dia com a oração. Hoje em dia, estamos vivendo no mundo digital, às vezes iniciamos o nosso dia com a “(entre aspas – santificação digital), ou seja, pegar o celular e começar a contar quantas mensagens recebidas, quantas pessoas que curtiram a nossa página no facebook, as fotos no instagram, nos status de wattsap, e tudo mais. Jesus quer que o nosso dia seja santificado pela oração. Oração não é dar informação, mas no fundo, no fundo é a comunicação pessoal e o relacionamento com Deus. Jesus comunica sempre com Deus, pedindo a iluminação, a intervenção de Deus antes de realizar a sua missão. De certa forma, sendo o filho de Deus, não precisava rezar, mas Jesus faz tudo isto para valorizarmos quão importante é a oração, a comunicação, o relacionamento com Deus na nossa vida. Nós rezamos não para mudar Deus – não! Rezamos sempre para que nós tenhamos a força, de pedir o poder para expulsar aos demônios, que habitam dentro de nós, simplesmente os sete pecados capitais: orgulho, inveja, avareza, ira, luxúria, gula e preguiça, e nós rezamos sempre para a nossa conversão, para mudar, santificar, puruficar e transformar a nossa vida. Para Jesus a oração, é o fundamento do seu trabalho, oração é o alicerce das obras que Ele faz. Está nos ensinando que nós precisamos rezar, de fazer oração. Oração é o fundamento da nossa ação ou dos nossos trabalhos. O trabalho ou a ação é o resultado ou o fruto concreto da nossa oração Ora et Labora. Rezar e Trabalhar é o lema dos cristãos. Por isso, não podemos considerar a oração como remédio que tomamos quando estamos doente, quando estamos precisando, mas temos que fazê-la como água que bebemos em qualquer tempo e lugar.
Amados leitores! Segundo ponto: 2º) Tanta gente em nosso tempo está influenciado e convencido com o pensamento judaico que considerava que o castigo, as dores e os sofrimentos estão ligados ao pecado. Quanto mais castigos que os homens tinham, isso significa tanto mais pecados que eles cometiam. As pessoas que sofrem bastante porque tinham muito pecados. Era o pensamento comum dos judeus. Hoje, somos chamados a um novo olhar que os sofrimentos, as dores não foram e não são a causa dos pecados. Porque realmente os justos e inocentes sofrem muito do que os maus que estão sempre na condição saudável. Lemos hoje na primeira leitura. A experiência do homem santo, justo e temente de Deus; o profeta Jó. Ele tinha muitos sofrimentos, sofreu bastante dia e noite, mas ele acreditou e perseverou, ou seja, embora que a vida dele seja embrulhada por tantas dores, sofrimentos, mas ele não negou a sua fé em Deus e cumpriu sempre a lei divina e faz a vontade de Deus. Ele aceitou não apenas alegria, mas toda situação amarga na sua vida. Tudo isto é a provação da sua fé e da perseverança. Jó acreditou e perseverou com todo o sofrimento. Por que ele sabe que depois dos sofrimentos haverá felicidade. Depois de tempestade sempre há bonança. Depois da morte terá a ressurreição. No AT, a aceitação do sofrimento de Jó prefigura que no NT enxergamos na Pessoa de Jesus Cristo. Então, Jesus, hoje quer nos ensinar outra perspectiva para mudar a nossa mentalidade que a doença, o castigo e todo o sofrimento não são a causa do pecado. E, por isso é que na aclamação do Evangelho nos encantou dizendo:” O Cristo tomou sobre si nossas enfermidades, nossas dores e carregou em seu corpo os nossos males, as nossas fraquezas”. Isto significa que Jesus está se responsabilizando por nossas dores corporais. Ou seja, Jesus morreu não por causa do seu pecado, mas por causa dos nossos pecados para nos salvar. Nisto consiste o que chamamos a Boa Nova, Boa Notícia. A boa nova consiste na Cruz. Esta é a notícia que nos alegra. A notícia urgente que nós temos que pregar.
O terceiro ponto: 3º) A pregação. Jesus no Evangelho diz vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza. Devo pregar também ali, pois foi para isso que eu vim. A pregação ou evangelização é uma necessidade urgente Caritas Christi urget nos, diz são Paulo na 2ª carta aos Coríntios 5, 14. Foi também a Encíclica do Papa emérito Bento XVI, na qual ele sublinhou que “O amor de Deus, manifestado em Jesus Cristo, é a chave da experiência pessoal e da doutrina do Santo Mestre João de Ávila, um «pregador evangélico», ancorado sempre na Sagrada Escritura, apaixonado pela verdade e ponto de referência qualificado para a «Nova Evangelização»”. Pregar ou evangelizar é a obrigação de todos os batizados, São Paulo nos conforta ai de mim se eu não pregar o Evangelho, ai de mim se eu não evangelizar. Cada um de nós tem a obrigação de anunciar o Cristo crucificado que nos salvou. Somos convidados para pregar que na cruz, Jesus dá o novo sentido sobre a doença. Todo o sofrimento faz com que nós estejamos unidos com Cristo. Ou seja, temos olhar que atrás do sofrimento, está escondida a graça de Deus.
Queridos irmãos e queridas irmãs! Vamos relembrar a experiência do São João Paulo II. Na Basílica de São Pedro em Roma naquela altura quando ele era o papa. Foi baleado por um turco. Seguidamente, o papa sofreu durante muito tempo. No silêncio ele aceitou o que lhe aconteceu. Durante a sua recuperação, o papa conseguiu escrever a carta apostólica, intitulada “Salvifici Doloris”, na qual ele ensina que o sofrimento nos dá a salvação. O sofrimento que nos salvou. São João Paulo II está nos convidando para entender que a nossa doença está relacionada a Jesus crucificado. Neste tempo de pandemia, tanta gente está sofrendo, o mundo está sofrendo – estamos vendo e assistindo também que os profissionais de saúde e os que estão na linha frente estavam e estão trabalhando muito para dar atenção com máxima responsabilidade aos doentes para serem recuperados. Alguns dos nossos irmãos e irmãs sim, já conseguiram ser recuperados, mas infelizmente alguns não. A eles nós apenas dedicamos a nossa oração. Na oração pedimos a intervenção de Deus. Que sejam perdoados e que Deus pela sua misericórdia os receba no descanso eterno, e, continuamos rezando para que o nosso mundo seja salvo por Deus. Porque é a oração que nos identifica como cristãos, somos seguidores e discípulos de Jesus, também que imitemos o exemplo que Ele nos deixou como o do seu relacionamento com Deus Pai por meio da oração. Deus abençoe!
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Pe. Francisco da Costa | Diocese de Díli, Timor-Leste