Quaresma: tempo de conversão, caridade e obras de misericórdia
A Quaresma é o tempo indicado pela Igreja em que nos unimos a Jesus Cristo em sua caminhada no deserto nos quarenta dias e quarenta noites durante os quais, conduzido pelo Espírito Santo, venceu a tentação e o Tentador por nós, compadecido de nossa fraqueza (Hb 4, 15).
Hoje, o deserto se torna para nós um lugar pedagógico onde se vai vencendo, nos passos de Jesus, as tentações do poder, da vaidade e da glória deste mundo. Para isso, o início da Quaresma nos marca com o convite às práticas do jejum, esmola e oração, conforme refletimos na quarta-feira de cinzas.
Com a prática do jejum, abstemo-nos de coisas por nós estimadas em nossa vida como uma refeição, um comportamento ou quem sabe um vício (as redes sociais, por exemplo). Na secura do deserto sentimos sede, certo? Assim também a penitência, deixando-nos com “sede”, faz entender que é Jesus a Água que nos sacia plenamente, conforme refletirá o Evangelho do terceiro Domingo da Quaresma (Jo 4, 5-42).
A prática da esmola ultrapassa uma simples oferta do que me sobra. Para os Padres da Igreja, a esmola significa doar algo de si, de nosso interior e não simplesmente algo externo. Com efeito, é muito mais difícil doar nossa atenção, por exemplo, a quem mais precisa.
E, por meio da oração, seguimos os passos de Jesus que nos conduz à intimidade com o Pai pela senda da vida interior. Oração é diálogo, o que supõe a fala e a escuta, dimensão que precisa ser resgatada com urgência em nossa sociedade. Ir para o deserto significa nos afastarmos dos ruídos do mundo para escutar Deus, a fim de que nosso viver seja todo orientado por Ele.
Ajude-nos, a Mãe de Deus, a peregrinar nesse caminho de santificação junto a Jesus, a fim de alcançarmos, no despojamento, os frutos que só se colhe na fecundidade do deserto.
Quarta-feira de cinzas
Orientar nosso viver, em todos os aspectos, para a Pessoa de Jesus Cristo é o pano de fundo de todo o ano litúrgico na vida da Igreja. É Ele, o Filho de Deus, que nos ensina a ser filhos do nosso Pai que está nos céus. É Jesus quem dá o sentido de toda nossa vida.
Fomos criados por Deus, Nele e para Ele, de modo que as realizações preparadas por seu Amor para nós são valores e riquezas que dinheiro nenhum neste mundo pode comprar, como a caridade, a paz, a concórdia, a mansidão e toda sorte de bem-aventuranças que são frutos do Espírito Santo (Gl 5, 22). E para alcançar essa verdade essencial de nosso ser, que é a pertença ao Pai em Jesus Cristo, somos chamados a olhar para dentro de nós e colaborar com a obra redentora que o Senhor quer operar. Eis o tempo propício: a Quaresma.
Somos convidados a voltar nosso coração para a Pessoa de Jesus. É tempo de oferecer ao Senhor penitência, de modo que o sacrifício oferecido no amor purifique nosso íntimo e aproxime nosso coração do que é verdadeiramente essencial e Nele alcancemos aqueles tesouros imensuráveis que resplandecem numa alma apaixonada por Deus.
O recolhimento e a vida interior, a fim de conhecer ante a Luz de Cristo a nossa verdade essencial, são convites oportunos para este tempo, que começa com a celebração da quarta-feira de cinzas, marcando toda a caminhada quaresmal, durante a qual recebemos, no sinal da Cruz sobre a nossa fronte, as cinzas em sinal de penitência, exortados pelo convertei-vos e crede no Evangelho.
O sinal redentor traçado sobre nós e as cinzas manifestam ao coração dos cristãos o caminho de conversão a ser trilhado para que nos configuremos, mais profundamente, a Jesus, para resplandecer em nós Sua Pessoa. Nossa Senhora nos ajude a bem viver este caminho de conversão.
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José Klebson de Souza | Seminarista da Diocese de Paranaguá